Professora usa colete para incluir aluno com paralisia cerebral em quadrilha junina: 'Queria que ele se sentisse parte'
08/07/2025
(Foto: Reprodução) Arthur Ortega nasceu após 27 semanas de gestação em São José do Rio Preto (SP) e pôde participar da quadrilha no primeiro ano escolar, com a ideia de Ellen Matos. Mãe, Cintia Ortega, agradeceu pela iniciativa. Professora usa colete adaptado para incluir aluna com paralisia cerebral em quadrilha
Em um gesto comovente e carregado de empatia, uma professora usou um colete adaptado ao próprio corpo para ajudar um aluno de quatro anos com paralisia cerebral a dançar quadrilha junina com a turma em uma escola de São José do Rio Preto (SP).
📲 Participe do canal do g1 Rio Preto e Araçatuba no WhatsApp
A iniciativa, que viralizou nas redes sociais após o vídeo publicado pela mãe atingir mais de 75 mil visualizações, mostra Arthur Ortega sorrindo, envolvido pelo carinho da professora Ellen Matos e pela música. Assista acima.
Nos comentários, pais, alunos e internautas elogiaram a atitude da professora: "Salvou meu dia, melhor vídeo que vi hoje", escreveu uma seguidora.
A quadrilha ocorreu no dia 28 de junho para os 12 alunos, mas a mãe, Cintia Valéria Ortega, de 32 anos, contou que o momento especial para o filho começou a ser planejado antes, pela própria professora, e exigia o colete que se chama Walking ("andar", na tradução livre para o português).
Por conta disso, a mãe pediu emprestado para outra mulher, que tem filho atípico, para que Arthur usasse na festa junina. No primeiro ano da escola, o menino, que tem mobilidade limitada, o que, por vezes, o afasta de atividades coletivas, pôde desfrutar do momento junto aos colegas da turma.
Complicação na gravidez
Arthur nasceu com 27 semanas, o que corresponde a cerca de sete meses de gestação. Cintia teve uma pré-eclâmpsia e síndrome de Hellp, complicação na gravidez que causa a destruição de glóbulos vermelhos.
Com 22 semanas, Arthur deixou de apresentar o crescimento fetal esperado e os nutrientes que ele necessitava não estavam sendo repassados pelo cordão. Dessa forma, precisou interromper a gestação.
Com oito dias de vida, Arthur sofreu um ferimento devido à prematuridade, o que levou à paralisia cerebral. Por isso, ficou na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal por 163 dias. No período, Cintia revelou que viveu momentos de angústia.
Ao ver Arthur sorrindo e se divertindo na quadrilha, Cintia celebrou o momento de vitória.
"No dia da festinha, passou um filme desde o nascimento até aquele momento, em ver ele tão feliz e se sentindo ‘igual’ aos amigos. Ali, vi que tudo valeu a pena. Ele amou, ele ama música e dança mesmo dentro das limitações. A professora inclui ele em todas as atividades possíveis", celebra a mãe.
Professora usa colete adaptado em Rio Preto (SP)
Ellen Matos/Arquivo pessoal
Cintia e o filho Arthur, de São José do Rio Preto (SP)
Cintia Ortega/Arquivo pessoal
Acolhimento que transforma
À reportagem, a professora, que já havia usado recursos pedagógicos adaptados ao longo do ano, contou que buscou uma forma prática de permitir que o aluno participasse ativamente da festa.
Nos dias que antecederam a apresentação, a professora treinou o uso com Arthur para que ele se sentisse seguro e confortável. Observando o entusiasmo da criança em bater palmas, sorrir e tentar acompanhar os colegas, a professora se recusou a deixá-lo apenas como espectador.
"Eu observei que ele tinha muito potencial, muita vontade. Nos ensaios, ele apresentava muita alegria. Eu queria que ele se sentisse parte. As iniciativas de inclusão são muito importantes em todos os locais, principalmente no âmbito escolar, porque nós, professores, precisamos ter essa visão de que o acesso à educação é um direito de todos", reforça.
Formada em pedagogia e especializada em análise de comportamento, Ellen pontuou que a inclusão deve ir além da teoria. Inspirada em práticas de educação inclusiva, a professora contou que participa de formações contínuas e mantém diálogo com os pais.
Para incluir Arthur, ela adapta atividades, cria jogos sensoriais, propõe interações em grupo e transforma o planejamento pedagógico para atender às necessidades dele.
"A importância da inclusão é justamente essa: de ressaltar que é um direito inegociável. É o olhar sobre o outro na prática, não só no papel. É possível explorar as possibilidades de cada ser humano, independente do laudo. Trazer para realidade o que eu aprendi nos estudos", comenta Ellen.
Arthur, que tem paralisia cerebral, no primeiro ano escolar em Rio Preto (SP)
Cintia Ortega/Arquivo pessoal
Arthur com a professora Ellen em Rio Preto (SP)
Ellen Matos/Arquivo pessoal
Veja mais notícias da região no g1 Rio Preto e Araçatuba
VÍDEOS: confira as reportagens da TV TEM